Acreditamos saber, depois de tantas discussões, o
que é barroco; também na música. Os teóricos da música do século XVII confirmam
nossos conceitos ou preconceitos. Citam um famoso sonêto do poeta barroco
Marino: "È dei poeta il fin la meraviglia: Chi non ia far stupir, vada
alia striglia.”
Exigem que a música também seja meravigliosa,
grandiosa, ampollosa, massiccia; que chegue a produzir lo stupore dos ouvintes e
a colpire i sensi. São conceitos familiares. Mas não se aplicam só à música barroca.
Alguns valem, igualmente, para a contrapontística flamenga; outros, para a
“grande ópera” de Meyerbeer, a música programática de Berlioz, os dramas
musicais de Wagner, as sinfonias e óperas de Richard Strauss. Esses critérios
são, no fundo, subjetivos: apenas se referem às impressões recebidas pelos ouvintes.
Mas a tentativa de referir-se à técnica musical e ao
espírito atrás dela fornece resultado ainda mais insatisfatório. Pensando nas
artes plásticas e na literatura do Barroco, podemos esperar da sua música as
mais ricas complexidades polifônicas e a expressão de uma religiosidade
mística. Mas então, os fatos nos decepcionam totalmente. O gênero musical
dominante do século XVII não tem nada que ver com religiosidade mística: é a
ópera. E em vez das complicações polifônicas, espera-nos o canto do solista, a homofonia,
a ária. O gênio com que, na música, abre o século é o operista homofônico
Monteverde.
O espetáculo é desconcertante. O século XVII é, nas
artes plásticas, o de Bernini e Rembrandt, El Greco e Vermeer, Velazquez e
Caravaggio; é, na literatura, o de Cervantes e Shakespeare, Donne e Molière,
Calderón e Racine. Mas na música, o século XVII só produziu algumas poucas
obras-primas de experimentadores geniais como Monteverde, Schuetz e Purcell. Os
resultados definitivos— a música de Alessandro e Domenico Scarlatti, de
Vivaldi, Bach e Handel—pertencem ao século XVIII; e não se parecem com os
inícios.
Evidentemente, o problema do Barroco na música é
diferente do mesmo problema nas outras artes. Será melhor adiar a discussão das
teorias para examinar, antes, os fatos.
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